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Viajar sozinho: é ser por inteiro

“(…)nunca é pequeno o valor que uma mulher paga para ser dona da própria vida”

Esta frase vem de um artigo do Observador e fez-me pensar no que é ser dona da própria vida, não só para mulher mas para o Homem. Será que vir para a Ásia sem companhia me faz ser dona da minha vida? O que é ser senhora e dona da própria vida? É que eu gosto dessa ideia (não fosse eu avessa a ordens e amarras, perdoem-me sou do signo sagitário. Sim, acredito nos astros porque muitas coisas batem certo, não tenho a culpa).

Isto de andar a viajar sozinha gera, por vezes, desconforto e desconfiança, suscita muitas questões e pode levar a más interpretações mas, entenda-se, nenhuma delas vem de mim.

O plano de parar por um tempo os estudos/trabalho veio ter comigo devagarinho e sussurrou baixinho “há mais mundo para ver”. Demorei algum tempo a sair do meu lugar-conforto e do meu pré-plano de vida, fez-me reformular o modo de estar e de ver. De uma forma inteligente pos-me à prova e disse “vamos lá ver se és capaz sua medricas sensível”.

Nunca somos demasiado medricas para viajar sozinhos, o que podemos ser é frágeis e não querer expor essa fraqueza. O medo nunca o chega a ser se a calma e a clareza vierem primeiro. Não tenho medo, tenho receios. Não tenho medo que me façam mal, tenho receio de não conseguir pensar com clareza no que fazer se isso acontecer. Tenho receio que me falte a coragem e que num dia mau me vá abaixo mas medo nunca.

Viajar sozinha faz-nos conviver em absoluto com a pessoa que teremos de aturar a vida toda, o nosso eu. Na correria da vida trabalho-casa-trabalho o “eu” actua como a persona social mas e o que somos na verdade, alguém conhece? Será que sabemos exactamente quem somos? Será que conseguiremos ser donos da nossa vida sem sermos nós próprios?

Quando se viaja sozinho o eu não é a única companhia (porque se vão conhecendo outras pessoas) mas é a nossa maior segurança. Viajar sozinha não custa mais do que viajar acompanhada porque os amigos, o conforto da família e a nossa cama faz falta em qualquer uma das opções. E no fundo as coisas são sempre mais simples do que parecem. Que não seja desculpa a falta de companhia, que nada amarre a vontade de querer ver mais.

Estar a viajar sozinha e na Ásia é visto muitas vezes visto como um acto de coragem mas por favor não, não o falem e não pensem. Nada há de coragem em viajar sozinha, o que há é uma vontade enorme de ver e conhecer mais. Querer viajar não é ser corajoso, é ter sede de conhecimento, de paisagens, de pessoas e de experiências. Querer viajar não chega, querer algo raramente é suficiente para fazer acontecer, querer é só a predisposição para fazer algo. Fazer acontecer é vestir a camisola do “vamos mesmo”, é ser-se dono da própria vida. Normalmente nunca é preciso tanto dinheiro quanto se pensa, que leve um ano, dois ou quantos precisos para se juntar o suficiente mas nunca desistir de ir. O dinheiro para viajar é apenas um passaporte que abre horizontes, desmitifica crenças e proporciona experiências inesquecíveis. Viajar não é um luxo, é uma oportunidade.

E aqui ando eu, sozinha, aproveitar esta oportunidade que, com muitas poupanças, fiz acontecer. Aqui ando eu, sozinha, a crescer dia a após dia. Aqui ando eu, sozinha, a ser dona de mim, a fazer escolhas para mim e por mim. Aqui ando eu a ser feliz comigo mesma, sem tirar de forma nenhuma a importância de todos os meus amigos, família e namorado. Aqui ando eu a ter diálogos interiores com este ser que estará colado a mim para sempre.

Bolas,  é difícil explicar a liberdade de viajar assim. Agora percebo que viajar sozinha e ser dono da própria vida são sinônimos. Deixar a vida acontecer, enquanto me esquivo de aceitar os deveres de adulta, é para já o melhor plano.

Ou o melhor é mesmo deixar a vida acontecer, aparecer e ser. Sempre.

 

Ps: único aspecto negativo de viajar sozinho é dar forte nas selfies. Ah e falhar boas fotografias em grandes paisagens porque ninguém nos consegue tirar a foto no ângulo que desejávamos. Sad sad but true. Faço figuras tristes com o selfie stick, assumo.

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